O Nepal, um país enclavado entre as montanhas do Himalaia, carrega uma mística que vai além das paisagens majestosas: é um solo onde o sagrado se entrelaça ao cotidiano. Foi com essa visão que, em busca de uma conexão mais profunda com minha espiritualidade, parti em direção a dois dos templos mais venerados do país: Pashupatinath e Swayambhunath. Cada um desses lugares ressoa com uma energia ancestral que parece se infiltrar na pele, transportando a alma para uma dimensão de paz e encantamento. Venha comigo nesta jornada espiritual enquanto compartilho as experiências e os segredos desses templos.
Pashupatinath: O Coração de Shiva
Chegando ao Sagrado:
Assim que pisei em Pashupatinath, senti o cheiro marcante de incenso e flores de jasmim, que permeava o ar e fazia o corpo inteiro relaxar. O templo, um dos mais sagrados da cultura hindu, é dedicado a Shiva, o destruidor e transformador. Ele se ergue à beira do rio Bagmati, cujas águas são reverenciadas como purificadoras. Logo ao longe, avistei sadhus – homens santos hindus – com suas faces pintadas e corpos adornados por cinzas e contas de rudraksha. A cena parecia saída de outra época, evocando um sentido de reverência que transcende o tempo.
Travessia do Rio e os Ritos de Fim de Ciclo:
No rio Bagmati, observei rituais funerários, um aspecto comum e extremamente respeitado do local. Os familiares se despedem de seus entes queridos num ciclo de morte e renascimento que é fundamental no hinduísmo. Não há um luto triste, mas sim uma sensação de continuidade. A cada rito de cremação, uma nova liberação da alma acontece. Essa realidade impactante me fez refletir profundamente sobre o sentido da vida e da morte. Pashupatinath é um lugar que exige respeito, silêncio e uma entrega à paz que vem da aceitação dos ciclos naturais.
Dicas práticas:
Quando Visitar: Pashupatinath pode ser visitado durante todo o ano, mas o festival de Maha Shivaratri, em fevereiro, é um espetáculo à parte, com milhares de peregrinos e sadhus de todo o mundo.
Onde Meditar: Atravessando o rio, há um canto menos movimentado e ideal para meditar e contemplar a energia do lugar sem pressa.
Swayambhunath: O Templo dos Macacos e o Olho que Tudo Vê Subindo o Caminho da Sabedoria:
Conhecido como o “Templo dos Macacos” devido à presença de incontáveis primatas que o cercam, Swayambhunath é um dos templos budistas mais antigos e místicos de Katmandu. A subida exige disposição, já que é preciso enfrentar uma longa escadaria de 365 degraus, mas cada passo parece carregar uma lição de paciência e disciplina. Ao chegar no topo, me deparei com a enorme stupa branca, decorada com os icônicos olhos de Buda, que observam em todas as direções. O olhar sereno e compassivo parecia atingir meu coração, como se nada pudesse escapar de sua sabedoria.
A Harmonia entre Hinduísmo e Budismo:
Swayambhunath é um lugar especial, onde hinduísmo e budismo coexistem em uma harmonia única. Os mantras budistas e os sinos do templo ecoam no ar enquanto monges tibetanos e devotos hindus compartilham o espaço com turistas e viajantes. Essa mistura espiritual me fez sentir como parte de uma única humanidade, onde todas as crenças se encontram na busca pela paz e iluminação.
Dicas Práticas:
Melhor Horário: Subir ao amanhecer ou ao entardecer traz uma energia única, com o céu pintado de tons rosados e dourados, criando uma paisagem quase divina.
Como Respeitar a Cultura Local: Caminhar no sentido horário ao redor da stupa e girar os rolos de oração ajuda a se integrar ao ritual sagrado.
Refletindo sobre a Jornada: O Nepal além do Turismo
Ao longo da minha jornada nesses templos, compreendi que o Nepal não é apenas um lugar para visitar, mas um convite para uma experiência de transformação. A espiritualidade não está escondida nos mosteiros, mas em cada detalhe do cotidiano: no sadhus que recitam mantras, nas orações silenciosas das mulheres nepalesas, na expressão dos devotos em profunda meditação. Para quem deseja se conectar com a própria alma, os templos sagrados do Nepal oferecem um portal. Tudo o que se pede é presença, respeito e abertura para a sabedoria que ultrapassa qualquer entendimento racional.
Dicas Finais para Exploradores Espirituais:
Respeito ao Local: Não tire fotos dos rituais funerários em Pashupatinath, pois eles são eventos sagrados para as famílias.
Conexão com a Cultura Local: Conversar com os monges e devotos, mesmo com um vocabulário limitado, abre portas para compreender a espiritualidade do local.-
Momentos de Silêncio: Escolha sempre um momento para o silêncio em cada templo; é quando a verdadeira experiência se revela.
Essa viagem foi um lembrete poderoso de que a espiritualidade está nas coisas simples e que a busca pelo sagrado é, no fundo, uma jornada ao próprio coração. Pashupatinath e Swayambhunath não são apenas templos; são lugares onde o tempo parece parar, onde o silêncio carrega uma profundidade que não se encontra em qualquer outro lugar. Cada esquina, cada degrau, cada canto murmura segredos antigos e histórias de milhões de devotos que ali se entregaram ao divino. Ao pisar nesses santuários, você se torna parte de algo muito maior, como se fosse acolhido por uma presença invisível, mas inegável.